No dia 28 de abril de 2025, um apagão atingiu toda a Península Ibérica. Espanha e Portugal ficaram sem energia por horas, impactando hospitais, transportes, sistemas de comunicação e, de forma crítica, as cadeias logísticas. O que parecia ser um evento isolado expôs uma cadeia de falhas interligadas: oscilações na frequência, desativação de geradores e desconexão da rede europeia, provocando instabilidade generalizada no fornecimento elétrico. Esse cenário evidencia o quão vulnerável pode ser uma rede na qual até uma falha pontual desencadeia efeitos em cascata.
Redes inteligentes vêm sendo fundamentais para mitigar riscos de colapso em sistemas elétricos complexos. Com monitoramento em tempo real, previsão de falhas e simulações, essas tecnologias aumentam a capacidade de antecipar e reagir a eventos críticos. Em Portugal, por exemplo, soluções como o Outage Forecast já vinham sendo testadas com até 85% de precisão na identificação de pontos vulneráveis, a partir da análise combinada de dados históricos, condições climáticas e a topologia da malha elétrica.
No entanto, durante o apagão de abril, essas ferramentas ainda não estavam plenamente integradas à operação em tempo real de toda a rede, o que limitou sua efetividade. A plena adoção e integração de tecnologias preditivas como essa poderia ter feito diferença no tempo de resposta e na extensão dos danos, permitindo decisões antecipadas como o redirecionamento de equipes e o reforço de trechos frágeis da rede, ações que influenciam diretamente a fluidez e continuidade das operações logísticas, como distribuição de insumos, abastecimento urbano e movimentação de cargas.
Durante o colapso, centros de distribuição ficaram sem energia e sem conexão com sistemas de gestão, o que afetou diretamente o controle de estoques e rotas de transporte. Cadeias de frio foram interrompidas, comprometendo alimentos e medicamentos. Portos operaram com restrições, e o carregamento de mercadorias foi suspenso em várias regiões. Tudo isso exigiu respostas rápidas e alternativas emergenciais, como o uso de geradores móveis, redirecionamento de entregas e priorização de cargas críticas. A logística, nesse contexto, deixou de ser elemento de apoio e passou a ser fator determinante para mitigar os prejuízos causados pela falha energética.
O episódio reforça como a previsibilidade e a capacidade de resposta são essenciais para garantir a continuidade de serviços críticos, especialmente os logísticos. Num cenário em que redes energéticas estão cada vez mais complexas e expostas a riscos extremos, o uso de tecnologias baseadas em dados, simulações e inteligência operacional deixa de ser um diferencial e passa a ser uma responsabilidade estratégica. Garantir a resiliência energética é garantir que cadeias de suprimentos continuem operando, o que exige planejamento entre operadores de rede, gestores logísticos e autoridades públicas.